sábado, 23 de abril de 2011

Para todos que choram

Carta aberta da Rede FALE sobre as mortes acontecidas na escola Tasso da Silveira em Realengo, Rio de Janeiro.

Chorar é um ato radical, é o clamor da alma. É derramar a mais pura essência do sentimento em gotas cálidas de emoção. Sim, sabemos que alguns choram de alegria, e que elas podem expressar o nascimento de uma criança, porém hoje vertemos lágrimas por pequeninos tiveram suas vidas ceifadas tragicamente.

Não há palavras que traduza o nó na garganta ante a barbárie vivida na Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro. É inaceitável pensar na ideia de que crianças sejam alvo de tamanha brutalidade. Porém é mais inaceitável ainda que alguém tenha acesso tão fácil a armas e munição.

A transbordante violência acontecida nesse ato louco é tão somente o sintoma de algo que é visto em proporções menores todos os dias. Pessoas de todas as idades morrem cotidianamente em nossas cidades vitimadas por armas de fogo. Muitas dessas armas letais chegam na mão de qualquer um porque ainda há uma grande circulação delas e falta de fiscalização do estado. É comprovado que a presença delas nos lares faz também aumentar grandemente as chances de acidentes, suicídios e homicídios culposos ou mesmo dolosos, em vez de servir como mecanismo de defesa.

Em 2005 (ano do referendo sobre o desarmamento), a Rede FALE mobilizou-se com a campanha FALE PELO DESARMAMENTO que, entre outras reivindicações, pedia a adoção de medidas rigorosas para o controle da produção, importação, exportação e circulação de armas de fogo e munição em nosso país, fiscalizando-se também, com maior eficiência, as empresas de segurança privada e polícias, a fim de serem coibidos os desvios de armamentos para organizações criminosas e a imprescindível proibição do comércio de armas para a população civil.

Na disputa do referendo sobre o comércio de armas, os vencedores coordenaram a campanha do VOTO contrário ao desarmamento, foram bancados pela indústria de armas e deram a falsa ideia de que votar “Sim” seria o mesmo que favorecer os criminosos. Hoje a maioria dos crimes e assassinatos são praticados com armas provenientes do mercado legal, prova cabal de que tal alegação não passava de sofisma.

A Bíblia afirma que Deus enxugará dos olhos todas as lágrimas. Sim, é verdade... Mas muitas dessas lágrimas poderiam ser evitadas! Até quando instrumentos de morte serão fabricados com a desculpa de trazer segurança? Quantas outras vítimas involuntárias irão tombar para que nossa gente tome consciência do poder destrutivo das armas? Quantos “brasileirinhos e brasileirinhas” ainda terão suas vidas tomadas pelo terror que nos cerca enquanto o estado brasileiro teima em não criar políticas públicas que fortaleçam uma cultura de paz?

A Rede FALE se manifesta em favor da vida. Para todos que também choram conosco diante da violência acontecida em Realengo, nossa mensagem é:

Chorar é um estado de alma, é ser plenamente humano e totalmente divino. É um bem espiritual que Deus nos dá. É a capacidade de sentir numa época onde a lógica é ter peito de pedra e coração de latão. Felizes são os que choram, pois deles é o Reino de um Deus que por meio do seu sangue reconcilia toda a sua criação. Queremos convocar todos vocês que orem junto conosco para que nosso país converta “...suas espadas em relhas de arado, e as suas lanças em foices”(Isaías 2:4).

Em Cristo, o Príncipe da paz.

Caio Marçal – Secretário de Mobilização Nacional da Rede FALE e Missionário da Igreja de Cristo de Fecheirinha

mobilizacao@fale.org.br

Twitter: @redefale

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Os discípulos de Jesus e a prática da misericórdia

E eis que se levantou certo doutor da lei e, para o experimentar, disse: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Perguntou-lhe Jesus: Que está escrito na lei? Como lês tu? Respondeu-lhe ele: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. Tornou-lhe Jesus: Respondeste bem; faze isso, e viverás.
Lc 10: 25-37

Um certo doutor da Lei, homem dedicado ao conhecimento e à interpretação dos códigos divinos, levantou uma importante questão prática: “- Mestre, que farei para herdar a vida eterna?”. Apesar de suas intenções puramente provocativas, não há dúvidas de que este sujeito ansiava por uma vida que fosse além da realidade presente. Desejava por vida plena, cheia de significado e aprovada por Deus.
É possível que formulemos muitas e variadas possibilidades para alcançar vida eterna. Sacrifícios? Rituais? Práticas ascéticas? Mais conhecimento? Nada disso. Jesus lhe devolveu a pergunta: “- Que está escrito na lei? Como lês?” O doutor da Lei sabia a resposta: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.”
É simples! Está claro! Vida eterna é a consumação lógica na existência de quem já se deixou envolver pela vida de Deus. Deus é amor e, quem vive com Deus, ama.Mas mesmo assim não faltam tentativas para fugirmos de Sua vontade. Para o doutor da lei não estava claro saber quem era o seu próximo. Ele ainda guardava um meio para se esquivar do mandamento.
A parábola do samaritano não deixa mais espaços para fugas. Temos uma dupla resposta: amar é fazer o bem ao próximo.O próximo é todo aquele que cruza o nosso caminho - “...Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou perto dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão; e aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; e pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele.” ( v33 e 34)
Desejo e conhecimento não bastam. O doutor da lei estava cheio de desejo e carregado de conhecimento. Seguir a Cristo é viver a vida de Deus. Deus é amor! Jesus nos ensina que o amor, mais que um mero sentimento, é a prática da misericórdia. Amar é servir em misericórdia as pessoas que cruzam nosso caminho.
Quem ama está na luz. Amemo-nos!

Em Cristo, Júlio Marçal , pastor.